3. Paranoia - Ele não tem nome

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- Meu Deus oque você esta fazendo aqui? -Sussurrei para o garoto do balanço, que estava sentado a minha cama quando eu acabara de sair do banho vestindo meu pijama de porquinhos com azas

- Acho que você estava esperando que eu aparecesse de novo. -respondeu em um tom baixo, e pausado como eu disse ele parecia que havia aprendido a falar como uma criança de dois anos
- Não estava não -sussurrei caminhando até a porta e a trancando, liguei o radio em um som um tanto baixo na radio local, para que mamãe não me escutasse. - Você não é gente -falei
- Sou sim

- Minha mãe não te viu.
- E daí, Grace ? Você esta me vendo, e isso que importa
- Porque você esta aqui ? -continuei a sussurrar, parada perto a comoda, ele despertava-me medo e desconfiança.
- Já disse -ele encostou-se na cabeceira da cama- Você queria que eu voltasse e eu voltei
- Tudo bem -respirei fundo- Oque você é ?
- Sou gente -ele parou de falar por um tempo- Você pode sentar eu não vou te morder ou te matar
- Obrigado, mas até que você me diga oque faz aqui eu não quero chegar perto de você
- Ok -ele deu de ombros como se não se importasse, na radio tocava uma opera tão doce que sempre tocava naquele horário- O balanço, o balanço me traz boas lembranças, na verdade aquele é único lugar que eu me lembro que já estive .
- Por isso fica lá, todos os dias ?
- É -murmurou- Agora que você sabe que não me lembro de quem sou nem como vim parar na sua cabeça você pode se sentar aqui ?
- Não.
- Por que ?
- Por isso mesmo, eu não quero que você exista. -sussurrei e caminhei até perto do mesmo, como se ele fosse algo em extinção eu o observei com cautela, levantei a mão um pouco e com os dedos trêmulos eu cheguei perto de sua face - Se eu te tocar minha mão te ultrapassa ? -perguntei e o toquei, a pele pálida dele era macia, seus olhos caramelados me olharam com espanto.
- Meus Deus -falei- Você não é um fantasma. -ele deu uma risadinha e pegou em minha mão a tirando de seu rosto, suas mãos eram tão geladas e ásperas
- Eu não sou um fantasma, Grace
- Espere -sentei-me em sua frente- Como sabe meu nome?
- Eu já ouvi sua mãe te chamando assim.
- Oque você é ? -Pergunta mais uma vez 
- Gente como todo mundo é gente
- Você não é gente, você nem sabe seu nome
- Eu sou gente -ele murmurou e ouvi a porta bater, ele olhou para mesma e eu  segurei em seu braço-
- Não vá embora, não faça como antes, preciso saber se você é realmente uma alucinação, ou se mais alguém pode te ver agora.
- Porque ? Você nem me quer por aqui -ele se levantou
- Então vai, vai e não volte -sussurrei indo até a porta quando voltei a olha-lo ele já não estava mais la, suspirei e abri a porta, mamãe sorriu com o canto direito dos lábios e eu voltei para cama .
- Oque é ? Veio dizer o quanto sou anormal ?
- Desculpe -ela entrou- Eu liguei pra faculdade, e você volta ainda essa semana .
-  Oque te fez mudar de ideia ?
- Eu não quero te privar de nada, só não queria que passasse pelo que passou outra vez.
- Você não tem com oque se preocupar.

*  *  *


- Ele apareceu de novo -falei a Katherine, e ela olhou-me com os olhos semi-serrados-

- Onde?
- No meu quarto.
- Perguntou a ele quem ele era ?
- Perguntei -falei baixo olhando para minhas mãos em meu colo-  Ele disse que a única lembrança que tem é do balanço azul da praça.-levantei a cabeça para olha-la nos olhos- Ele disse que apareceu porque eu esperava que ele aparecesse.
- E seus remédios?
- Ele apareceu depois que tomei os remédios.
- Você só o vê durante a noite?
- Não, ontem eu o vi na praça como de costume, mas de repente ele estava ao meu lado no meio fio. -suspirei- Eu o toquei
- Como assim o tocou ?
- Toquei seu rosto, era como tocar gelo e flores -falei olhando agora para a janela aberta- Ele tem cheiro de terra molhada -senti vontade de sorrir mas não o fiz
- Você o beijou ?
- Não, eu toquei-o com a mão. Engraçado -falei em um meio sorriso- Ele disse que era gente como todo mundo é gente mas não sabia nem de onde vinha.
- Talvez ele só seja fruto da sua cabeça, Grace . Você tem estado muito tempo sozinha, e sua mente precisa de alguém, talvez sua mente tenha o criado por conta de sua solidão
- Mas, mas ele parece tão real -suspirei-  Tão solido
- Você o criou, Grace.
- Se eu voltar para faculdade talvez essas alucinações podem sumir não é mesmo ? -perguntei
- Claro, quando você esta rodeada de pessoas, você tem algo a mais para se preocupar do que a solidão.
- Acho que volto a estudar amanhã.
- Isso, volte. Vai te fazer bem, tente viver como se nunca tivesse tido tais transtornos .
- Vou tentar.

* * *

Sai da clínica e pari como de costume no meio fio, o balanço azul rangia com o vento indo para frente e para trás para frente e para trás, o garoto sentado a um banco observava o balanço com doçura . Eu poda sentir a nostalgia que aquele balanço o causava . Respirei fundo e fechei os olhos com força, talvez com aquilo o garoto sumisse dali, pelo contrário quando tal murmurou em meu ouvido pausadamente



- Me observando de novo, Grace? -sussurrou, e eu abri os olhos, olhei para os lado da rua e não havia ninguém , nem um barulho de carro, e nem um sinal de mamãe, somente o ranger do balanço azul

- Não vou falar com você na rua -sussurrei entre dentes
- Porque não ?
- Vão achar que sou louca.
- Bobagem
- Volte outra hora, estou tentando voltar pra faculdade
- Oque e faculdade ? -perguntou e eu o olhei
- Você nunca foi a uma faculdade ?
- Eu não sei oque é
- É um tipo de escola.
- Haa -ele abriu a boca balançando a cabeça- Não vou a escola a muito tempo
- Não me admira -falei para ele em um sussurro- A minha psiquiatra disse que eu criei você
- Como um amigo imaginário ?
- Isso é para crianças, acho que ela quis dizer que minha mente criou alguém para conversar, e não se sentir sozinha .
- Eu não acho que isso seja verdade, eu sou gente .
- Mas ninguém te vê .
- Você me vê -protestou ele, e ele falava tão convencido de que era real como eu esteva convencida de que ele não era fruto da minha mente, era como se ele também quisesse ser real . ouvi o barulho do motor do carro no fim da rua, e vi o carro azul de mamãe .
- Agora já pode desaparecer -falei
- Você se diz gente mas também que gente é essa ? Quer que eu fique mas também quer que eu vá, gente estranha -ele falou
- Vai -falei e fechei os olhos com força, quando os abri ele já não estava ao meu lado, e mamãe estava quase parando perto ao meio fio . Suspirei e assim que mamãe parou entrei no carro .
- Você quer morar no compus ? -ela perguntou em um sorriso costumeiro, abri a janela do carro, enquanto ela o ligava
- Quero -falei
- Vamos arrumar suas malas hoje -ela parecia animada com aquilo, talvez ela tivesse ido ao terapeuta, e ele poderia ter a convencido daquilo . - Chamei a Anna para ajudar


 Dois dias depois



Enfim de volta ao campus, eu não dividia quarto com ninguém, o quarto de Anna era três quartos do meu, ela sempre estava ali desde que cheguei, impedindo-me de ver o garoto do balanço azul. E a única coisa que restava-me eram os pesadelos, eu continuava morrendo, todos as formas que um ser humano poderia imaginar, eu continuava voltando, e morrendo . 

 Na radio local da cidade as onze e meia tocava a opera de sempre, a voz da doce mulher acalmava-me como sempre, mas naquela noite ele voltou, estava mais pálido, seu cabelo cor de cobre desgrenhado e sua aparência era de quem não dormia a dias


- Porque você voltou ?

- Você me chamou -respondeu e eu o olhei
- Não chamei não -falei para ele e levantei-me indo trancar a porta, aumentei o volume do radio.
- Porque você sempre escuta essa musica ?
- Ela sempre toca nesse horário na radio. -falei- E parece ser o horário que você decide me deixar louca.
- A culpa não é minha. Você me chama e eu venho.
- Eu não queria que você aparecesse de novo.
- Então isso é uma faculdade ? -ele disse olhando em volta
- Aqui é o campus, onde dormimos .
- Ha . -ele sentou-se ao meu lado na cama .
- Por que você não vai embora ?
- Eu não consigo, não sei ir embora
- Gente sabe voltar de onde veio
- Eu sou gente, eu só não lembro de onde vim
- Veio da minha mente, agora volta pra dentro dela
- Eu sou gente, e gente não vem da cabeça de outra gente -ele me disse em um resmungo- Eu não caberia ai dentro
- Porque você quer ser gente ? Ser gente é sentir dor, oque você sente ?
- Ora eu sinto dor como toda gente sente -falou e eu ri
- Oque dói ? -perguntei
- Eu não sei explicar
- A dor é física ou emocional ?
- Dói, só sei que dói . Dói aqui dói ali, dói o peito .
- E por que dói ?
- Por que eu sinto como todo mundo sente
- E esse sentimento é saudade ?
- Oque é saudade ?
- Você não sabe oque é ? -perguntei levantando meu olhos para o olha-lo
- Não .. Eu ... Eu sei oque é
- Você disse que é gente, gente sabe oque é saudade
- Eu sinto
- Sente oque ?
- Saudade ora
- Saudade do que ?
- Do balanço -falou- De quando eu brincava nele.
- Você se lembra do balanço quando tinha quantos anos ?
- acho que sete
- E oque aconteceu com você ?
- Não sei -ele sorriu com o canto direito dos lábios para mim-
- Eu queria saber seu nome
- Ué você não disse que vim da sua mente, inventa um nome também
- Mas você disse que era gente
- Mas eu não sei meu nome
- Você é tão confuso -falei e dei uma risadinha-
- Que palavra a de ser essa ? Nunca ouvi falar
- Quer que eu ensine as palavras a você? -perguntei
- Eu não, eu aprendo sozinho
- Além de confuso é orgulhoso -falei para ele
- Também não conheço essa palavra
- Eu acho que tenho um dicionário aqui -falei me levantando, e peguei um dicionário na comoda . Voltei a me sentar ao seu lado . - Enquanto você esta observando o balanço pode ler esse dicionário .
- Oque é isso ? -perguntou pegando-o de minha mão .
- Ai diz o significado das palavras que você não sabe.
- Uma vez eu ouvi uma palavra muito estranha
- Qual ?
- Amor eu acho -ele murmurou baixo foleando o livro - Oque é amor, Grace ?
- Você disse que era gente, como não sabe oque é o amor?
- Gente não nasce sabendo
- Mas você já deveria saber, você parece ter vinte anos .-falei e ouvi alguém bater na porta e o olhei- Agora vai, volte depois quando souber o significado dessa palavra
- Tchau, Grace -ele sorriu e quando me levantei ele já não estava mais lá, abaixei o rádio, e abri a porta, Anna entrava como um furacão pela mesma, dando pulos e mais pulos de alegria . Ela fumava um cigarro que por onde passava trazia o maldito cheiro
- Festa, Grace. Os irmãos Night's vão dar uma festa
- Quando ?
- Agora -ela falou animada
- Mas já são quase meia noite
- As festas começam agora
- Eu não tenho roupa.
- Nas festas dos Night's você não precisa necessariamente usar roupas -ela disse sentando-se em minha cama com um sorriso encantador fazendo aquele olhar que só ela fazia para me convencer de algo, o pircing em seu nariz brilhava com a luz que batia contra o mesmo, dando um leve contraste em seus olhos azuis .
- Tudo bem
- Se arrume, o Shep passa aqui em meia hora.


Meia hora depois, já vestida de um suéter rosa, e calça jeans, eu fechei a porta do quarto. indo até o quarto de Anna, Shepley estava lá com ela. fumava um cigarro que parecia ser duas vezes mais fedido do que o que Anna fumava, ela vestia calça jeans justa e uma blusa que marcava-lhe os seios parcialmente redondos e médios . Sentei-me em um cadeira perto a escrivaninha, e a observei pentear os cabelos alourados



- Não sabia que gostava de festas desse tipo -Falou Shep para mim

- Eu não sei que tipo de festa é essa, mas eu precisava sair do quarto
- Ela não veio para o campus só para estudar, Shep -Falou Anna terminando de se arrumar
- Onde é a festa ? -perguntei me levantando
- No porão do prédio masculino
- Então vamos ?
- Vamos -falei .


Saímos do prédio, e fomos no carro de Shepley para lá. Sheley era namorado de Anna desde que sai da faculdade , ele era um tipo de cara vamos dizer, passivistas que amava a natureza mais que o normal , participava de protestos contra a construção de prédios em áreas com grande quantidade de arvores, e daqui de Liverpool ele protestava contra a pena da cadeira eléctrica no Texas, ele era contra a muitas coisas no mundo, e o único protesto que ele já disse-me três vezes desde que cheguei foi o da legalização da maconha, eu não sabia que um dia poderia ter isso, mas o centro da cidade havia parado, e aquilo não havia mudado em nada. Ele dissera que seu sonho era que vendessem maconha em cada esquina da cidade, e assim ele não seria preso tantas vezes. Pois ele já foi pego com grande quantidade três vezes em só um ano . Bem fora oque ele havia contado-me na noite passada . Na festa eu tentava sentir que era normal, não pensei de jeito nem um no garoto da praça, ele poderia aparecer ali, e imagino o quanto seria constrangedor se ele aparecesse e eu falasse sozinha em uma das melhores festas da faculdade .

 O apartamento parecia maior que eu esperava, E também não havia quase ninguém que um dia eu já havia visto, parecia que as pessoas que eu conhecera no ano anterior, já não estava mais lá, eu havia esquecido de perguntar isso a Anna, havia esquecido de perguntar a Anna oque havia acontecido com as pessoas, se elas haviam se mudado ou também saíram da faculdade . Me entregaram um copo avermelhado cheio de uma bebida forte que eu nunca havia tomado, a musica era eletrônica e fazia todos que estavam ali dançarem, então era assim, era assim as festas de fraternidade. Era daquilo que eu precisava, se eu ficasse rodeada de pessoas não veria o garoto do balanço novamente, por mais que de alguma maneira era agradável a presença dele . Me encostei perto ao balcão e vi Anna e Shepley afastar-se e irem para o meio onde todos dançavam, eu não me sentia a vontade para tal coisa.


- Você é a Grace ? -Um garoto grande e fisicamente forte, tinha a pele bronzeada tanto quanto um surfista de Malibu . Grandes olhos azuis e cabelos tão negros como céu do inferno, um sorriso quente tocava-lhe a face corada.

- Sim -falei
- sou Peter.
- Night? - Puta merda um dos irmãos Nights sabe meu nome? Me conhece? Ele não estudava aqui ano passado, não poderia saber sobre mim. 

Esse ultimo dialogo do Justin e da Grace foi a minha morte mano, essa conversa deles, esse jeitinho do Justin me matou escrever isso. Mas em fim, oqua acharam desse capítulo? Gostaram? Espero que sim. Erika, sobre Animals, essa foi a intenção, uma historia de terror, sobre psicopatas não tem que falar sobre amor, não tem que ter final feliz, por isso mesmo eu fiz sendo uma "one" porque um maníaco nunca muda, é somente aquilo que ele vê que ele sente que é real. Lana foi uma vitíma, e Justin é simplesmente um psicopata sem coração.

Um comentário:

  1. Eu ri com a conversa do Bieber e da Grace kkk que orgulhoso hein kk
    ContinuAAAAAAAAAAAAAA!!!
    - Erika =]
    P.S. *Sobre Animals* Tendi.. Mas mesmo assim: Coitadinha da Lana =\ ... Porque eu “meio” que me coloquei no lugar dela néh, então... kkk Enfim
    Tá ficando cada vez MELHOR essa Fic, sério, ADORO esse estilo de Fic sem ser essas “normais” sabe?? Enfimm
    <3 Love You <3

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